LAFIS: COVID-19 e a revisão das projeções Lafis - 2020
SÃO PAULO, 25 de março de 2020 /PRNewswire/ -- Após os primeiros efeitos sentidos do surto do Covid-19, o cenário econômico mudou e deverá continuar mudando constantemente. Muitas das previsões que eram críveis há uma semana, hoje já estão tão obsoletas quanto previsões feitas há mais de um ano.
O próprio Ministério da Economia já admitiu os efeitos da brusca queda da atividade econômica ao revisar sua estimativa para o crescimento do PIB, passando a prever uma expansão mínima de apenas 0,02% para este ano, ou seja, uma estabilidade técnica.
É por tais motivos que a Lafis revisou todo seu cenário macroeconômico para este e os próximos quatro anos, de modo a conformar todo o desequilíbrio econômico provocado pelos efeitos do período de confinamento adotado até então como forma de conter o ciclo de transmição da Covid-19 (doença causada pelo vírus Sars-CoV-2, comumente chamado de corona vírus)1.
Crescimento Econômico (PIB)
O índice de atividade econômica (PIB) certamente é o indicador que sentirá os efeitos mais óbvios que um período de confinamento e paralisação da maioria das atividades econômicas traz consigo.
Segmentos do setor de serviços como o comércio varejista e atacadista, setor de beleza e cuidados pessoais, vendas de eletrodomésticos, automóveis, móveis são só alguns exemplos que atividades que receberão grandes e negativos impactos e que levou a Lafis a alterar sua projeção para o PIB Serviços, que anteriormente apontava para uma expansão de 1,5%, passando à uma queda de 0,5%.
A indústria, por sua vez, deverá ser afetada devido à profunda redução da demanda nestes meses de confinamento, bem como pelo período de restabelecimento das atividades após o fim do surto, fazendo com que o PIB Indústria deixe de percorrer a trajetória prevista de crescimento (1,1% pela previsão anterior), devendo se retrair 2,1% neste ano.
A soma destes efeitos deverá fazer a economia brasileira a se retrair 0,8% em relação ao ano anterior.
Inflação
Com a atividade colocada em um ritmo muito menos dinâmico, percebe-se que a crise instalada possui efeitos claramente desinflacionários. A orientação do Ministério da Saúde para que as pessoas evitem sair de suas casas como forma de conter o contágio pelo vírus, bem como diversos decretos estaduais proibindo a circulação de pessoas e a abertura de todo e qualquer serviço não essencial, fez que atividades como varejo físico, academias, serviços de beleza, conserto de aparelhos eletrônicos, dentre uma infinidade de outras, interrompessem totalmente suas atividades, o que torna impossível o repasse dos custos ao preço final.
A indústria por sua vez, está vendo suas encomendas cairem a níveis muito menores, o que constitui um choque de demanda agudo. Nestas situações, a única solução é reduzir o preço dos produtos industriais, bem como a própria produção até que os crescentes estoques retornem aos níveis "normais". Neste sentido, mais uma vez um possível repasse de custo (como por exemplo elevações dos insumos importados dado a desvalorização do real) se torna praticamente impossível de ser realizado ao preço final.
As únicas excessões deste processo óbvio são os produtos essenciais para o período de confinamento. Alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza doméstica podem até apresentar pontuais aumentos de preço, dado ao aumento da demanda neste período, sobretudo em algumas regiões e áreas de maior adensamento populacional, no entanto, apesar de certo peso no IPCA geral de tais categorias (a saber Alimentação e Bebidas e Cuidados Pessoais), estas não farão frente às grandes quedas que ocorrerão na demais categorias como em Educação, Vestuário, Transportes e Habitação, o que fez com que a Lafis revisasse sua projeção para inflação acumulada de 2020, passando de 3,12% para 2,42%, patamar este abaixo do piso de metas de inflação estipulada pelo Banco Central.
Juros
Falando de Banco Central, com relação à condução da política monetária, há muito tempo o Bacen não descrevia uma mudança tão significativa do contexto econômico. Se antes a descrição da conjuntura interna permanecia sem grande alterações: "continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira2", além do cenário externo que "apesar do recente aumento de incerteza, o caráter acomodatício da política monetária nas principais economias ainda tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes3", agora, o mais novo texto do Bacen elaborado em ocasião do comunicado à imprensa o cenário mudou drásticamente.
Mesmo que os dados ainda não tenham captado os efeitos do Covid-19 na atividade econômica, o Banco Central já reconhece a gravidade da situação descrevendo uma provável queda da atividade com efeitos claramente deflacionários, além do aumento da incerteza no mercado de capitais, tudo isso com magnitude e duração incerta. O cenário internacional ainda é mais grave e de efeitos imediatos "a pandemia causada pelo novo coronavírus está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos financeiros. Nesse contexto, apesar da provisão adicional de estímulo monetário pelas principais economias, o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador4".
Assim, tudo isso fez com que a direção do Copom, em sua última reunião decidisse, por unanimidade, reduzir a taxa Selic de 4,25% para 3,75% a.a. - uma nova mínima histórica, deixando em aberto novos cortes a depender da necessidade. Dado isto, a Lafis revisou sua projeção (Selic) para fins de 2020, passando de 4,25% para 3,25%, prevendo mais um corte de 0.5 p.p já na próxima reunião.
Taxa de Desocupação
Outro mercado que certamente sentirá os efeitos do surto (ao que tudo indica, já está sofrendo) será o mercado de trabalho.
Somente com a paralisação temporária dos serviços às empresas e famílias não essenciais, bares, restaurantes, comércio dentre outros, muitos trabalhadores foram e continuarão a ser dispensados, fato que já elevaria a taxa de desocupação.
No entanto, os efeitos não deverão se limitar aos meses de confinamento apenas, mas sim a um período de duração de difícil determinação que se seguirá ao pico da crise sanitária. Após o restabelecimento da circulação de pessoas e reabertura das atividades econômicas suspensas, poderemos observar um longo período de atividade deprimida em virtude da falência de parte da força produtiva que sofreu com a brusca queda de receita e que não tinha uma reserva de caixa para financiar tal período.
Com isso, muitos trabalhadores, antes dispensados, não encontrariam seus antigos postos de trabalho à disposição, levando-os ao desemprego ou ao emprego precário. Além disso, o consumo provavelmente não deverá se restabelecer instantaneamente aos níveis pré-crise Covid-19, o que deverá afetar o ritmo de contratação da força de trabalho que a economia vinha traçando desde 2017.
Tais motivos levam a Lafis a crer numa elevação da taxa média de desemprego ao valor de 12,5% da população economicamente ativa neste ano.
Taxa de Câmbio
Os sucessivos recordes do dólar em relação ao real colocam o Brasil como o país com a moeda de maior desvalorização entre emergentes em 2020.
Isso se dá pois em momentos de crise, como é o atual cenário de previsão de recessão mundial, investidores estrangeiros saem de países de mais risco, como o Brasil, e compram em massa títulos do Tesouro de economias mais estáveis, em especial dos Estados Unidos, dado que são considerados uma das poucas alternativas seguras para preservar capital em tempos de grande incerteza.
Sendo assim, tais motivos levaram a Lafis a corrigir sua projeção cambial para o real, acirrando sua trajetória de desvalorização.
Resultado Fiscal (déficit primário)
Por fim, como apontando anteriormente, com a redução do nível de atividade econômica no país, somada aos efeitos da desaceleração da economia, colocou em primeira ordem de urgência a adoção de um pacote e medidas de apoio à população mais vulnerável economicamente, bem como as empresas em situação de insolvência, além de verba extra para apoio das ações médicas, logísticas e sanitárias
Tudo isso promete acirrar o déficit fiscal para além do patamar de gastos projetados anteriormente pela Lafis, bem como da meta fiscal prevista. Neste sentido, o reconhecimento de calamidade pública fez com que o Congresso aprovasse rapidamente o decreto legislativo que reconhece o estado de calamidade pública no país, permitindo que o governo aumente o gasto público e descumpra a meta fiscal prevista para o ano. Assim, o orçamento de 2020, que antes admitia déficit fiscal de até R$ 124,1 bilhões nas contas públicas, agora já não terá mais nenhum limite legal.
Mesmo reconhecendo a grande dificuldade que é projetar a demanda adicional de gastos necessários, aliado à perda de arrecadação que se seguirá da perda econômica nos diversos setores produtivos e de consumo nacional, o exercício realizado pela Lafis de projeção das receitas e despesas primárias públicas trouxe um déficit fiscal substancialmente maior, devendo ser gasta a quantia de R$ 202,75 bilhões em 2020 acima das previsões de arrecadação, desvirtuando totalmente a trajetória de redução do déficit primário que o País vinha traçando.
1Este texto abordará as mudanças feitas para o cenário econômico de 2020. Para visualização do cenário completo, com as demais variáveis para o período compreendido dos anos 2020-2024, confira a atualização do Cenário Econômico Lafis. |
Especialista Responsável: Felipe Souza - Economista Chefe. Mestre em Economia pela UNESP Araraquara. Iniciou as atividades na Lafis em 2010, onde é macroeconomista (ênfase em política monetária - inflação e juros), além de ser responsável pelo acompanhamento dos setores de transportes e indústria de base.
www.lafis.com.br | 55 11 3257.2952
Foto: https://mma.prnewswire.com/media/1137727/Cenario_Economico.jpg?p=original
FONTE Lafis
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