SÃO PAULO, 26 de junho de 2018 /PRNewswire/ -- Contexto Geral
A política sempre traz preocupação para os mercados, em especial o financeiro, que responde com mais agilidade às mudanças bruscas no debate público. Dessa vez, porém, o cenário político-institucional no país é um dos mais conturbados, com uma pulverização de candidaturas à presidência da república tão ou mais complexa que a de 1989, a primeira eleição direta depois do regime militar.
A operação Lava-Jato, deflagrada em 2014 e sem data para conclusão, abalou os três poderes, tornando-se um marco no combate à corrupção, ainda que venha sofrendo severas críticas no método e no conteúdo das punições. Nesse contexto, o ex-presidente Lula, personagem central naquele quebra-cabeça cumpre pena por crime de corrupção e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex do Guarujá-SP.
Sem Lula no jogo, um caso inédito desde sua candidatura ao governo do estado de São Paulo em 1982, o cenário ganha maior complexidade. De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 10 de junho e a primeira após o efeito da paralisação dos caminhoneiros, o petista lidera as intenções de voto (mesmo preso), com 30% da preferência, seguido pelos "sem candidato" com 21% e pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), com 17% das intenções. Em contrapartida, ambos estão entre os mais rejeitados na pesquisa. Depois do ex-presidente Fernando Collor (39%), o ex-metalúrgico é rejeitado por 36% dos entrevistados e o militar reformado por 32%, o que reforça a manutenção da polarização na sociedade.
Por um lado, a pesquisa reflete um sintoma oposto ao de muitas análises, ou seja, a de que o brasileiro médio tem como maior preocupação a corrupção, pois a preferência pelo petista indica que a memória do período de crescimento econômico, com geração de emprego e renda é mais importante, a despeito das acusações sistemáticas que atingem Lula e seu partido. Por outro lado, a ampla rejeição a temas como privatização de grandes empresas como, por exemplo, a Petrobrás e a reação a ideias como reforma da previdência e congelamento de gastos sugerem, ao menos em parte, que a população também recusa a agenda imposta pelo governo atual, conforme pesquisa Datafolha de maio na conjuntura da greve dos caminhoneiros.
Corrida Eleitoral
A ascensão do até então inexpressivo, mas bem votado, parlamentar Jair Bolsonaro reforça a tese da ascensão de um discurso de extrema direita conservador. Com pouca disposição ao debate e mais voltado a performances midiáticas, o trunfo que o deputado tem exibido é o apoio do economista Paulo Guedes, de orientação liberal e com aprovação entre os agentes do mercado.
Na centro-esquerda, o ex-ministro e aliado de Lula, Ciro Gomes (PDT), busca capitalizar a ausência do petista, conquistando apoio inclusive em partidos que foram favoráveis ao impeachment, que para o candidato foi um golpe parlamentar. Com um discurso conciso em torno de um projeto de reindustrialização para o país (concorde-se ou não com ele), o ex-governador do Ceará tem uma retórica e capacidade de verbalização de ideias elogiada até mesmo por opositores. Seu calcanhar de Aquiles, porém, é o temperamento explosivo, o que certamente será explorado, além da ausência de apoio formal do maior partido de esquerda na sociedade e no Congresso, o PT.
Cabe destacar ainda o papel de Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente e ex-senadora pelo PT que, mesmo tendo uma importante história política e bandeiras relevantes na vida pública, sofre do mal da indecisão. Frequentemente pressionada pelos lados opostos do espectro ideológico, titubeia em decisões tomadas, sobretudo em pautas como aborto, homossexualidade e política de drogas; nesses casos, a bancada evangélica tem obtido sucesso ao influenciá-la. Mesmo que tenha escolhido para compor sua equipe Eduardo Gianetti, economista liberal com trânsito facilitado no mercado, a ausência de uma defesa firme em torno das reformas do governo Michel Temer lança dúvidas sobre a candidatura.
Por fim, o candidato que até então seria responsável por capitalizar os votos de uma centro-direita mais "soft", Geraldo Alckmin (PSDB-SP), parece não decolar. Com número entre 6-7% nos cenários do Datafolha, a candidatura tucana não ganha musculatura e, o mais improvável, de acordo com pesquisa Ibope, o agora ex-governador não vence nas intensões de voto nem mesmo no estado de São Paulo, onde se concentra seu maior capital político. Lula lidera com 20%, seguido de Alckmin e Bolsonaro empatados com 14%.
Riscos
A Lafis elaborou um cenário que leva em consideração uma disputa de segundo turno entre dois candidatos mais prováveis, Ciro Gomes e Jair Bolsonaro, dada trajetória de ambos nas últimas pesquisas. A partir disso, escolheu-se apenas um vencedor, tendo em vista o movimento global de ascensão dos discursos extremistas com tom conservador.
Cenário Provável: Vitória de Jair Bolsonaro
Um programa econômico minimamente estruturado ainda não foi apresentado, o que contribui para mais instabilidade e, possivelmente, o próximo ano será de continuidade de um processo que se iniciou em 2015. Espera-se um câmbio mais desvalorizado, o que certamente produzirá efeitos sobre a atividade, se materializando em uma inflação mais alta que a observada no biênio 2017/2018, acompanhada pela alta da taxa Selic.
Para os anos de 2020-22, estima-se uma taxa de crescimento modesta, ao redor de 2,5%, em função da ausência de previsibilidade mínima. Como um militar da reserva, o que se pode deduzir é que se trata de um nacionalista que, por sua vez, seria avesso à privatizações e diminuição do Estado. Porém, o deputado se filiou recentemente ao Partido Social Liberal (PSL) e, entre outras bandeiras, defende a liberdade econômica, embora seja conservador nos costumes. Em outras palavras, uma flagrante contradição do ponto de vista ideológico.
Dessa forma, ainda que diversas hipóteses possam ser levantadas, pouco se pode prever, o que reforça a expectativa de um crescimento tímido e um cenário mais conturbado na sociedade, com pressão política de diversos setores marginalizados nos discursos conservadores. Em contrapartida, a configuração atual do Congresso Nacional, que provavelmente não deve se alterar para os próximos quatro anos, é mais próxima às ideias de Bolsonaro, o que poderia melhorar sua governabilidade.
Especialista Responsável: Marcos Henrique
Mais Informações:
Lafis Consultoria – www.lafis.com.br
Stefany Alencar – [email protected]
(11) 3257-2952
FONTE Lafis
Related Links
WANT YOUR COMPANY'S NEWS FEATURED ON PRNEWSWIRE.COM?
Newsrooms &
Influencers
Digital Media
Outlets
Journalists
Opted In
Share this article