Lafis: Alterações na política de preços da Petrobras e a paralização dos caminhoneiros
SÃO PAULO, 1 de junho de 2018 /PRNewswire/ -- Historicamente a Petrobras adotava uma política de preços (PP) dos combustíveis com poucos ajustes ao decorrer do ano, e em alguns, a petrolífera chegou a praticar preço de venda inferior aos custos da empresa.
Em 2016, a PP foi alterada e tinha como base dois fatores: paridade com o mercado internacional e uma margem para remunerar riscos inerentes à operação, como a volatilidade da taxa de câmbio e do próprio preço do petróleo. A nova política previa avaliações para revisões de preços pelo menos uma vez por mês.
Em 2017, em resposta à percepção da empresa de que a frequência dos ajustes anunciados na revisão anterior não era suficiente para acompanhar a oscilação de ambas as variáveis, e de que, nem a empresa poderia sustentar a produção como margens reduzidas, nem o Governo poderia mais bancar os subsídios concedidos à tais combustíveis fósseis, houve uma nova alteração da política de preços, desta vez podendo a empresa alterá-los (gasolina e diesel) nas refinarias diariamente.
No entanto, o que não fazia parte do cenário desenhado anteriormente, era que o preço do barril do Brent negociado em Londres fosse disparar e chegar a US$ 77,00 no início de maio (09/05), o maior preço desde 2014 e, em 2018 acumula alta de 15,5%. Já o WTI, negociado em Nova York, subiu 17,9% no mesmo período. A alta recente foi estimulada pela decisão unilateral dos EUA em romper com o acordo nuclear com o Irã estabelecido em 2015, após longa negociação com o ex-presidente Barack Obama. Além disso, a diminuição das reservas americanas em 2,2 milhões de barris pegou de surpresa os analistas, exercendo pressão adicional na alta do preço.
Soma-se a esse fato a crescente expectativa em relação à alteração na política monetária dos EUA, o que promoveu uma desvalorização de 10,5% na taxa de câmbio no Brasil desde o início de abril. No dia 18 de maio, antes mesmo que fosse desencadeada a alta nos preços dos combustíveis, o real chegou a ser cotado a R$3,75, como sintoma do estresse internacional.
Diante disso, a conjuntura foi marcada pelo avanço contínuo do preço do diesel, sendo rapidamente repassado aos custos da produção nacional. Além do mais, na esteira do aumento dos preços, o que também se observou a partir da PP vigente foi o aumento da participação do diesel importado e retração do diesel produzido internamente (em 2015 as importações representavam aproximadamente 12% do consumo interno, valor que chegou a 30% no primeiro trimestre de 2018).
Outro fato que vem à superfície é o próprio aumento das importações de diesel que após dois anos de recessão, ganhou fôlego em 2017, tendo praticamente dobrado em relação a 2016 (+ 94%). Apenas nos quatro primeiros meses de 2018, o salto nas importações de diesel foi de 60% frente ao mesmo período do ano passado. Apenas os EUA que, em 2014 e 2015 participava com 39% e 42%, respectivamente, nas importações do combustível para o Brasil, saltou para 74% e 79% nos dois últimos anos, em grande medida, explicado pela nova política.
Cabe destacar ainda que, entre os principais produtos importados dos EUA, o diesel teve participação de 5,1% em 2015 e 8,9% em 2016, mas, no ano passado, este produto passou a participar de 18% das importações, tendo saltado para 20% apenas no primeiro quadrimestre de 2018. Nesse sentido, pode-se concluir que, de um lado, a nova política de preços teve como objetivo central mudar o papel estratégico da Petrobrás, aumentando o grau de concorrência no setor de combustíveis, ou seja, na contramão do seu papel como controladora de um ativo estratégico global. Por outro lado, a partir da análise destacada acima, pode-se inferir que o player mais beneficiado por essas mudanças foi os EUA, com crescente participação nas importações brasileiras.
As reivindicações dos caminhoneiros que bloqueiam diversas estradas do país já há oito dias têm relação direta com o aumento do custo do diesel nas bombas. A principal exigência do grupo é a redução no preço deste combustível, já que os motoristas consideram que o preço atual inviabiliza o transporte de mercadorias no país, realizado principalmente por rodovias. Uma das solicitações é que o governo altere a regra de reajustes no preço do óleo diesel, além de reduzir os tributos incidentes sobre os combustíveis.
Após acordo firmado na noite do último domingo (27/05), o governo garantiu, por meio de três medidas provisórias, o atendimento a três reivindicações prioritárias dos caminhoneiros, entre as quais: a) redução de R$ 0,46 no litro do diesel por 60 dias; b) instituição de Política de Preços Mínimos do Transporte Rodoviário sendo que 30% dos fretes da CONAB deverão ser feitos por autônomos; e c) isenção de cobrança de pedágio para eixo suspenso de caminhões vazios em todas as rodovias. O governo, por sua vez, já sinalizou que não será possível compensar essas perdas apenas com a já projetada reoneração da folha de pagamentos, que trará de volta aos cofres R$ 9,5 bilhões.
Analistas Responsáveis: Marcel Tau e Marcos Henrique
Mais Informações:
Lafis Consultoria – www.lafis.com.br
Stefany Alencar – [email protected]
(11) 3257-2952
FONTE Lafis
Related Links
WANT YOUR COMPANY'S NEWS FEATURED ON PRNEWSWIRE.COM?
Newsrooms &
Influencers
Digital Media
Outlets
Journalists
Opted In
Share this article