Banco Central eleva a Selic com intensidade rara para tentar frear componentes voláteis da inflação
SÃO PAULO, 28 de outubro de 2021 /PRNewswire/ -- A direção do Copom, em sua última reunião ocorrida nos dias 26 e 27 de outubro, decidiu por unanimidade elevar a taxa Selic de 6,25% para 7,75% a.a.
Este é o sexto aumento consecutivo, no entanto, desta magnitude esse evento é raro, só ocorrido em igual proporção em junho de 2001, quando a Selic passara de 16,75% para 18,25%.
Evolução da taxa SELIC (final do mês)
As razões para tal elevação residem no alto patamar inflacionário que vem sendo observado há vários meses:
A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços veio acima do esperado, liderada pelos componentes mais voláteis, mas observam-se também pressões adicionais nos itens associados à inflação subjacente;
Comunicado à imprensa de 27 de outubro
Decerto, o IPCA acumulado em 12 meses de setembro atingiu a variação de 10,25%, distanciando-se ainda mais do teto da meta, em uma amplitude que não era observada desde fevereiro de 2016, quando o índice oficial de inflação havia atingido a variação acumulada de doze meses de 10,36%. É por tal motivo que o Comitê foi bem enfático ao descrever a conjuntura nacional da seguinte forma: "As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação" no referido comunicado.
Evolução da inflação IPCA acumulado em 12 meses
Neste contexto, a política de metas inflacionárias[1] adotada pelo Banco Central é clara: em nome do comprometimento institucional com a estabilidade de preços como objetivo primordial da política monetária, toda vez que a inflação medida pelo IPCA estiver situada acima do centro da meta no horizonte intertemporal de análise (que envolve cenário de curto prazo, mas também médio prazo, ou seja, num intervalo de 24 à 36 meses a frente), o Comitê de Política Monetária do banco central deve agir com seus instrumentos para trazê-la de volta ao centro estabelecido. E, comumente, o instrumento mais utilizado é a elevação da taxa de juros básica Selic.
É por tal motivo que a Lafis, em acordo com o próprio entendimento do Banco Central, descreve o momento como de posicionamento da Selic acima da taxa de juros estrutural.
Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território expansionista.
Comunicado à imprensa de 27 de outubro
No entanto, a elevação de 1.5 ponto base, mesmo sendo no sentido previsto pela Lafis, se apresentou mais aguda do que o projetado (1 ponto base).
Isto se deu em virtude da rápida deterioração do cenário político, sobretudo o fiscal, ocorrido nos últimos dias.
Desde o anúncio da flexibilização das regras de gasto (conhecida como Lei do Teto de Gastos), quase que a totalidade dos agentes e analistas econômicos (dentre os quais a Lafis se encontra) reagiu de maneira extremamente negativa, avaliando que a percepção de risco fiscal se elevara consideravelmente, além da probabilidade de aceleração inflacionária dado a expansão de gastos públicos acima do anteriormente previsto.
A maior crítica se dá pela criação de caixa extra, sobretudo para gastos adicionais materializados pelas emendas parlamentares prevista para 2022, não por coincidência ano eleitoral, em um claro movimento eleitoreiro de aumentar a ação pública, como forma de ampliar a popularidade dos parlamentares e executivo em momentos imediatamente prévio às eleições.
Não é por menos que o Banco Central foi claro ao expressar sua preocupação diante esta manobra fiscal recém anunciada, que é mais política do que técnica:
O Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico.
Comunicado à imprensa de 27 de outubro
Assim, a elevação da Selic nesta magnitude objetiva recolocar o prêmio dos títulos públicos (remuneração) ao nível do crescente risco, como forma de atrair investidores aos papéis nacionais, buscando assim frear o ritmo de desvalorização cambial e seus efeitos perversos nos preços internos (hoje, grande parcela da inflação provém de efeitos cambiais nos preços de itens muito importantes) como gasolina, diversos produtos importados, bem como uma gama enorme de bens e serviços.
Não por menos o cenário econômico vislumbrado pela Lafis abarca fundamentos macroeconômicos significativamente mais depauperados e taxa Selic mais elevada ao fim do ano.
Projeção: Tal alta de 1,50% traz um novo cenário de juro, de forma a colocar a Selic em 9,25% possivelmente ao final de 2021, ante a previsão de 8,00% feita em edição anterior deste Contexto Econômico.
Economista Responsável: Felipe Souza.
Economista Chefe. Mestre em Economia pela UNESP Araraquara. Iniciou as atividades na Lafis em 2010, onde é macroeconomista (ênfase em política monetária - inflação e juros), além de ser responsável pelo acompanhamento dos setores de transportes e indústria de base.
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[1] O regime de metas para a inflação é um regime monetário no qual o banco central se compromete a atuar de forma a garantir que a inflação efetiva esteja em linha com uma meta pré-estabelecida, anunciada publicamente.
Foto - https://mma.prnewswire.com/media/1673215/selic.jpg
FONTE Lafis
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